Tenho fome de sorrisos de sol e da preguiça do vento... da embriagante lânguidez do entardecer, espraiando-se sob os campos de trigo doirado, quase maduro. Dos dias cálidos a prometerem sinfonias de grilos e de rãs noites adentro. Tenho saudades do bailado ondulante das borboletas e do verde fluorscente dos luzicus na parede do meu quintal. Dos lírios que enfeitavam o jardim abandonado, em frente à casa alta de xisto da rua da minha avó e em cujo telhado de lajes quentes, me sentava junto dela e me demorava a ouvir as suas histórias de encantar, que me contava por entre costuras de dedal e agulhas difíceis de enfiar.
Lembro-me das dálias rubras sem canteiro, nascidas da terra, junto ao corrimão das videiras. Das tangerinas que salpicavam o chão em volta da tangerineira e das outras que colhíamos com a escada da azeitona. Dos abrunhos de frança a pingarem de mel... das abelhas gulosas e da bilha de barro onde se guardava a água fresca que nos matava a sede quando longe das nascentes.
Dos enfeites e das festas, da música e do largo cheio de gente.

4 impulsos:

Druida da Noite disse...

A saudade é isso mesmo, pedaços duma vida já vivida, recordações, emoções e brisas, que nos fazem desejar segurar o tempo com a ponta dos dedos, puxá-lo para trás e voltar ao que já fomos, tivemos e sentimos. É a saudade que nos alimenta, mas que igualmente nos atormenta por saber que já não voltamos mais...

Hanaé Pais disse...

Adoro esta música, faz-me lembrar a minha juventude.
Viver é alimentar a alma de doces memórias.
Obrigada por me ajudar a recordar.

Nilson Barcelli disse...

Belíssimo texto.
Gostei muito.

Lurdes, querida amiga, espero que o teu Natal tenha sido muito Feliz e desejo que o teu novo ano seja excelente.

Beijinhos.

Mel de Carvalho disse...

Um excelente 2013, Cleozinha.
O melhor dos mundos, sempre!!!

Beijo saudoso
Mel