Sei que me perco muitas vezes nas profundezas da memória, pela razão da procura de um não sei quê que me possa preencher o vazio evidente deste desalinho que me povoa a existência. Algo em que acredito, existir no vácuo onde se conserva toda a essência de uma vida que já vivi mas que me não pertence... que se me afigura surreal, como se nunca tivesse sido minha. Uma vida que visionei de um patamar superior, pelos olhos de uma alma que se separou do corpo, precisamente no instante imediatamente a seguir ao seu perecimento. Talvez resultante de uma qualquer maleita incurável; portanto, uma outra vida, interrompida e impedida de seguir o que lhe fora predestinado.
Preciso desse indizível que me venha polir os detalhes que a corrosão do tempo calcinou e atirou para a fogueira do esquecimento. É por isso que vou insistindo, teimosamente, no indelével gravado no fundo das minhas lembranças, para me não deixar perder do rasto do princípio. É por isso que volto sempre ao lugar onde tudo começou...


Se eu pudesse viajar no tempo, embarcaria sozinha numa cápsula invisível e rumaria a norte. Serenamente, atravessaria mil penumbras de primaveris madrugadas em busca das longínquas cordilheiras da infância perdida. Só ali, naquele lugar de sonho, sei que permanecem intactas todas as vivências felizes das quais me vão chegando ecos diluídos em fugazes lembranças.
Aterraria no surreal mundo das sensações, do lado de lá da ponte dos hemisférios das percepções, onde se acredita que nascem os rios das grandes emoções.
Esta seria, a viagem de todas as viagens. O épico feito da minha fantasia...