Eco de um choro...


Tristemente belo
É assim que te leio
É assim que te sinto
Mergulhado no teu mundo
Onde o negro da noite
É o teu refúgio
Onde o silêncio
Te habita
E se te entranha na pele

Essas sombras que deambulam
Pelos recantos do teu sentir
São os seres horrendos
Impiedosos
Que te impelem a escrever
E tu
Cego de amor...
Segues os seus conselhos
Pisando o tempo
Chorando palavras
Ensanguentadas de dor

Escrevendo...
Para não morrer!

Este singelo, mas sentido poema, foi inspirado aqui...




O lusco fusco era a hora perfeita. Desliguei o botão do aparelho que me obrigava a permanecer no mundo real e voltei ao meu lugar secreto, para onde fujo sempre que posso, levada pelo embalo dos meus pensamentos...
A lua já tinha subido meio palmo no horizonte, desde a sua silenciosa chegada. Ali estava ela, imponente e divina! A deusa daquele céu imenso, de tom alaranjado, agora ainda mais belo, à medida que a lua o ia banhando de prata.
Aproximei-me vagarosamente da janela do tempo e debrucei-me sob o parapeito das minhas lembranças, que, manhosamente, me levaram para um lugar tão distante dali...
Revisitei-me numa outra vida, vivida em segredo e há muito tempo. Secretamente guardada num baú invisível, qual tesouro pirata que só eu sei onde está.
Ali fui até rainha! A rainha de um reinado estranho e misterioso. Só meu!
Nesse reino onde havia também um escravo... um servo que, quando queria , sabia ser dedicado, ao ponto de me fazer sentir especial sem o ser... a cumplicidade era o nosso reino cheio de regras impostas pelo meu sentimento. Ainda sinto o perfume do pecado no ar... o sabor adocicado do proibido... onde a loucura tomava as rédeas da envolvente sedução, desbravando os caminhos que nos levavam até aos limites do irracional...
Mas houve um dia, que o orgulho falou mais alto e compreendi o quanto ele pode ser severo e cruel, desencadeado por um outro sentimento, que eu sabia existir em mim, mas não nele. Pois ardi muitas vezes, nas labaredas do ciúme, que me consumiam a alma até mais não poder. Sofri tudo isso em silêncio, sem nunca mostrar um só sinal de sofrimento, transformando as chagas em sorrisos. Talvez para que não acordasse a vontade do abandono, que eu não queria, mas sabia estar latente e pacientemente à espera de uma oportunidade. Achava-me forte!
Mas há sempre um fim para tudo. E o dia do fim daquele meu reinado, tinha finalmente chegado pela noitinha .Naquele dia soltei as amarras que me prendiam a algo que no fundo eu sabia ser uma ilusão.Fiquei livre, mais leve e muito mais solta. Aprendi uma grande lição, não se pode querer o que não nos serve!
Aprendi aos poucos a ter confiança em mim.Aprendi a ser EU!
Não tenho saudades, mas foi para lá que o meu pensamento me levou hoje.
Já de regresso ao mundo real, retomo as tarefas banais de mais um fim de dia, tão igual ao de ontem, tão igual ao de amanhã... até que chegue aquela hora mágica, que me levará de novo ao cais dos meus pensamentos.Num outro lugar, num outro tempo...




A noite desceu
Sob o horizonte
Dos meus sonhos...

Caiu uma bomba
Vinda dos céus
Há mortos espalhados
Por todo o lado!

Não sei onde estou
Não tenho para onde ir
Escureceu tudo à minha volta...

Onde estará a minha mãe
Que não me vem buscar?

Grito...
Mas ninguém me ouve
Nem o meu pai
Nem os meus irmãos
Onde estão os meus amiguinhos?
Terão eles morrido também?

Não...
Não pode ser!

Estou aqui
Sozinha
No fundo deste abismo
Num vale sombrio
Sem árvores
Sem pássaros
Sem chão...
Tenho medo!

Nada se move
À minha volta
Sinto um cheiro forte
Nauseabundo
A carne queimada

Grito de novo
Ninguém me ouve
Ninguém me procurou ainda
Ninguém deu pela minha falta...

Estou só
No vale da morte
Sou orfã de mim mesmo!...



Dia 08/11/2008, 16H, Salão Nobre do Paço do Sobralinho (A1, entre Alverca e Vila Franca de Xira), "No Princípio era o Sol" (Poesia)

Mais um livro da minha querida amiga Mel de Carvalho (a quem dediquei este post), dona e senhora das palavras, e por quem tenho uma grande admiração. Entretanto e se quiserem, podem ver aqui alguns dos seus trabalhos em prosa e aqui, em poesia.


Amanheceste no meu pensamento
E por um breve momento
Olhaste-me e sorriste-me
Como se me quisesses dizer algo bonito
Apenas com o olhar...

Vesti-me de ti
Com as lembranças que ficaram
Guardadas nas tuas gavetas
Que não esvaziei nunca

Conversei contigo
Em monólogo
Sobre coisas pequenas
Coisas nossas
Que só eu e tu entendemos

Depois
Peguei-te ao de leve na mão
E levei-te até lá fora
Ao nosso jardim
Para que as visses...
Como estavam lindas as rosas
Aquelas que tu plantaste
Um mês antes de partires...

Sentei-me no nosso banco de verga
Debaixo do nosso alpendre
Deitaste a tua cabeça no meu colo
E ali
No nosso refúgio de sonhos
Que construí para ti
Finalmente dei-me conta
Da tua presença ausente
Que me enlouqueceu a mente
E me faz procurar-te até no pó
E encontrar-te apenas
Nas saudades que tenho de ti...!



No próximo dia 4 de Outubro, vai ser lançada a colectânea “Arte pela Escrita - Colectânea de prosa e poesia”, uma obra que faz a compilação de textos de 37 autores que por norma se encontram no café virtual do EscritArtes, e onde figurará um poema escrito por mim.
São 37autores, no total, oriundos do Minho ao Algarve, passando pelas regiões autónomas e pelo Brasil. Uma montra do que, em prosa e poesia, se vai fazendo em língua portuguesa.
O lançamento acontece no dia 4 de Outubro, pelas 14h30 no Clube Literário do Porto.Se puder e quiser participar, não falte!